Regulação das redes sociais 255p6e

Por Jener Tinôco

 

O discurso recorrente sobre a regulação das redes sociais no Brasil expõe, de maneira objetiva, um paradoxo: aqueles agentes públicos que a defendem com tanto fervor o fazem, despudoradamente, a pretexto de defender a democracia. E as justificativas que apresentam já são bastante conhecidas, manjadas, até: combate ao discurso de ódio, à desinformação, às big techs, aos excessos da internet e por aí vai.

 

A democracia não pode ser uma desculpa para o controle, já que pressupõe um ambiente de liberdade, pluralidade e confronto de ideias.

 

Impor a regulação das redes sociais dessa forma parece, claramente, uma tentativa de usar a democracia como cortina de fumaça para a implementação de medidas rigorosas que impõem a vontade de alguns, de forma dominante, sem considerar a opinião dos demais.

 

Como apresentado, esse discurso é bem estranho, enviesado política e ideologicamente, e pode representar um grave retrocesso aos direitos e garantias individuais assegurados na constituição federal.

 

Quem tanto quer regular as redes sociais pode estar, de fato, tentando controlar o cidadão.
Claro que essa não é a justificativa oficial, mas pode ser a consequência efetiva dessas intenções de regulação: o controle do que o indivíduo pode ou não dizer, pode ou não publicar ou compartilhar.

 

O Estado não pode ter o direito de decidir o que deve ou não ser dito.
Bom, numa democracia é assim, claro.

 

A liberdade de expressão não existe apenas para proteger discursos populares ou consensuais, mas, sobretudo, para garantir o direito à divergência, à crítica e à variedade de pensamentos. A tentativa de regulação estatal pode querer atribuir a órgãos quaisquer o poder de decidir o que é desinformação ou discurso de ódio, e criminalizar por isso, o que é extremamente perigoso.

 

Hoje, o alvo pode ser o discurso de um grupo específico, amanhã, pode ser qualquer cidadão que ousar criticar o poder. Assim, a regulação corre o sério risco de se tornar um instrumento político de coerção e vigilância, ferindo o princípio democrático da liberdade individual, como verificamos frequentemente em todo o mundo.

 

Não se trata de negar que existam problemas reais nas redes sociais. Fake news, campanhas de desinformação e ataques coordenados de ódio existem e devem ser combatidos, mas por meio do fortalecimento da educação digital, da responsabilização individual com o devido processo legal, e do estímulo à autorregulação das próprias plataformas, não pela imposição de normas amplas e genéricas que abrem margem para abusos e arbitrariedades dos donos do poder da hora. O risco a censura é visível.

 

Os direitos fundamentais não são concessões do Estado, mas garantias invioláveis da cidadania. Nenhum governo, por mais bem-intencionado que se declare, pode violar esses princípios sob o pretexto de proteger a democracia. Afinal, não há democracia sem liberdade de expressão.

É fundamental, portanto, que a sociedade brasileira compreenda os riscos embutidos nessa regulação das redes sociais tal como tem sido proposta. O debate é necessário, mas deve sempre respeitar os limites constitucionais e preservar as liberdades individuais como valores inegociáveis. Controlar a internet é controlar o cidadão, o que é absolutamente incompatível com um país livre.

 

Nunca é demais lembrar que toda ditadura começa com uma desculpa e se mantém com a censura.

 

*Sociólogo, publicitário, especialista em marketing

 

 

Posted On Quinta, 05 Junho 2025 06:04 Escrito por

Lula sofre uma fritura reversa 9833

Josias de Souza

 

 

Acostumado a fritar auxiliares, Lula vive uma experiência culinária atípica. Sofre uma fritura reversa. Anunciado há duas semanas como novo ministro das Comunicações, o líder do União Brasil na Câmara, Pedro Lucas Fernandes, decidiu se desnomear. A recusa do cargo é descortês, inédita e reveladora.

 

A descortesia decorre do fato de que, esgotada a fase de sondagem, não se recusa convite de presidente da República. Duas semanas depois da confirmação, a negativa vira achincalhe. Deputado do baixo clero esnobando convite do Planalto é coisa jamais vista. Daí o ineditismo.

 

A revelação escondida atrás do inusitado é que a captura do Orçamento federal pelo rebotalho parlamentar rebaixou o poder de sedução de Lula. Um ministério estratégico como o das Comunicações virou asterisco. Poderia ser a ambição de gente qualificada. Após servir de vitrine para a desqualificação de Juscelino Filho, tornou-se desinteressante para quem tem muitos interesses, exceto o interesse público.

 

Posted On Quarta, 23 Abril 2025 11:24 Escrito por

Uma Geração e Duas Eras 492td

Era uma vez um tempo em Porto Nacional — ainda parte do norte de Goiás, hoje coração do Tocantins — em que não havia televisão, telefone ou internet. Mesmo sem esses instrumentos modernos de comunicação, a cidade já vivia na vanguarda da educação, da saúde e da política. De Porto nasceu um núcleo de resistência contra as arbitrariedades da época e de luta pela criação do Estado do Tocantins

 

 

Por Carlos Braga*

 

 

As crianças cresciam em harmonia com a natureza. As brincadeiras seguiam o ritmo das estações: havia o tempo da enfinca, do conto, do pião, da “salva latinha”, da “beira poço”... E assim a infância fluía, especialmente para aqueles nascidos entre as décadas de 1960, 70, 80 e início dos anos 90.

 

O principal meio de comunicação era o rádio, que captava as estações do Rio de Janeiro. Por isso, muitos se tornaram torcedores dos times cariocas. Com pouca influência externa, os valores, a educação e os princípios eram moldados sob forte influência dos dominicanos e sob as bênçãos do inesquecível padre Luso.

 

Somente 28 anos após a chegada da televisão ao Brasil, o sinal chegou a Porto Nacional — e ainda assim, de forma improvisada. Os programas eram retransmitidos a partir de fitas gravadas com semanas de atraso. Quando estudantes voltavam de Goiânia, tornavam-se o centro das atenções: as meninas se reuniam em torno deles, ansiosas para saber o que havia acontecido com a mocinha da novela das oito.

 

O tempo ou. Aquela geração que aprendeu datilografia, que se comunicava por cartas e eternizava momentos com câmeras Kodak, vive agora na era digital, em que tudo é instantâneo e as informações chegam em avalanche. Ainda assim, essa geração — que conheceu o ado analógico — absorveu com maestria o novo mundo digital. É uma geração única, com um pé na história e outro no futuro. Viveu o tempo da escassez de informação e agora transita na era da abundância.

 

Antes, o capital era o dinheiro. Hoje, o conhecimento é o novo capital. Contudo, mesmo com a promessa de democratização da informação, o saber está cada vez mais centralizado nas mãos de grandes corporações — Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft (as chamadas GAFAM). A coleta de dados pessoais e o controle do fluxo informacional tornaram-se estratégias lucrativas que, muitas vezes, limitam o verdadeiro o ao conhecimento.

 

Essa geração, moldada por princípios sólidos na infância e juventude, não pode se deixar seduzir por bolhas de desinformação. Não podemos abandonar nossos valores em nome de narrativas rasas e repetitivas das redes sociais. É hora de olhar para si mesmo, reconhecer os próprios fundamentos e resistir às armadilhas do senso comum digital.

 

Devemos nos reconectar com nossas raízes, fincar os pés nos princípios que nos formaram e lutar para que a informação seja verdadeiramente democrática e ível. Afinal, essa geração privilegiada, que viveu duas eras, tem o dever e a capacidade de vencer mais essa batalha.    

 

*Carlos Braga, é engenheiro civil e líder político em Porto Nacional.

 

 

 

Posted On Sexta, 04 Abril 2025 13:39 Escrito por

Corria os anos setenta e Araguacema, uma cidade do norte de Goiás, hoje estado do Tocantins, pulsava com a energia da juventude e a calma das águas majestosas do Araguaia.   6q471

 

Por Tom Lyra

 

 

O mundo ava por grandes transformações, mas ali, nas manhãs ensolaradas, o tempo seguia seu próprio ritmo, como se quisesse eternizar cada instante de simplicidade e beleza.

 

O vento fresco de junho soprava pelas ruas de terra, carregando consigo o cheiro do café recém-ado e do pão saindo do forno, aromas como o cheiro do doce de jaca da vó Chiquinha que traziam conforto e um sentimento de pertencimento.

 

Caminhar pelas ruas era presenciar a vida fervilhando em uma sinfonia de sons, cheiros e sabores que se misturavam harmoniosamente.

 

Os galos cantavam anunciando o amanhecer, os cachorros latiam em coro, e o ranger das rodas do carro de boi do seu Aureliano se misturava ao trote firme do cavalo altivo do seo Alencar, como se cada som fosse uma nota de uma música que só quem viveu ali poderia reconhecer.

 

 

A venda do Doca e a barbearia do seu Antoin eram pontos de encontro na velha Couto Magalhães, onde as conversas corriam soltas, cheias de histórias e risadas.

 

Na padaria do Domingos Serrotão, o entra e sai era incessante, e o cheiro do pão quentinho se espalhava pelas ruas, despertando memórias que hoje parecem pertencer a um tempo mágico.

 

No mercado velho da Hostílio Sampaio, o barulho seco do Machado de Cabo curto cortando a carne se unia ao estalo das bolas de sinuca no salão do Maneco, onde jogadas certeiras arrancavam aplausos e murmúrios dos espectadores atentos.

 

 

Ao fundo, o sino da igreja badalava, chamando os fiéis para a missa, enquanto as freiras franciscanas caminhavam em direção ao templo com os cadenciados, como se o tempo fosse uma prece silenciosa.

 

Seu Zacarias, sempre atento, informava as horas do alto de seu atalaia, e a velha Rural do Divino recebia um banho caprichado na beira do rio, preparando-se para mais uma jornada.

 

Seu Inácio já partia para a pescaria, enquanto Zé da Pretinha armava sua ceva de pacus em frente ao Gaivota, na esperança de uma boa e certa colheita .

 

No porto, seu Vavá abastecia o barco, preparando-se para mais um dia de trabalho sob o olhar atento das águas do Araguaia e das gaivotas.

 

 

As vacas lambiam a parede do armazém do Henrique Jacaré, no porto dos homens alguns já se aglomerava para o asseio matinal, enquanto  eu,  Juarilson e Inácinho meninos curiosos, observavamos os caititus no quintal do seu Brás, encantado com a simplicidade e grandiosidade da vida ao mesmo tempo.

 

Dona Madalena ajeitava a venda, enquanto Dona Maria Moia limpava o bucho do boi com destreza, seu ofício transformado em arte.

 

As marteladas do seu Enoque ecoavam ao som do rádio do Pedro da Paulina, e Dona Ivan organizava o bar com o olhar atento. Seo Laranjeira esterilizava as agulhas em água quente para as injeções, a máquina de arroz do seu Pedro Mota já se fazia ouvir, e seu Pedro Pinto me falava de Camões, transportando-me para outros mundos sem que eu precisasse sair dali.

 

 

No bar do Hermes, alguns já degustavam as inúmeras cachaças com raízes, tradição e sabor misturados em goles lentos.

 

Seu Oliveira, sentado em sua cadeira de fibra de macarrão, observava o movimento sem pressa, como quem saboreia cada instante da vida, consciente de que cada momento era precioso.

 

Pelo céu, bandos de periquitos cruzavam a cidade em revoada barulhenta, como se anunciassem que outro dia cheio de histórias estava apenas começando.

 

No rio, o banzeiro cadenciado deixava a superfície branca de espuma, enquanto a canoa subia preguiçosa, desenhando caminhos na água.

 

O fogo subia da coivara de candeia montada na olaria, pintando o horizonte com tons avermelhados, aquecendo não só os tijolos, mas também nossas lembranças.

 

 

Na praça central, meninos brincavam sob a sombra generosa do pé de manga estopa, e na igreja Menonita, os cânticos enchiam o ar de espiritualidade, trazendo paz aos corações.

 

No campinho da Estiva, ao lado do pé de oiti a bola rolava animada, carregando os sonhos da infância, e na esquina, o Benoni vendia seu famoso picolé de murici, refrescando a garotada que corria descalça pela cidade, sem preocupações além de aproveitar cada instante.

 

 

Começava a correria de meninos rumo ao aeroporto, pois o barulho das hélices do DC-10 da VASP já anunciava o pouso, trazendo novidades e promessas de um mundo que parecia tão distante, mas que chegava ali através das páginas da revista Cruzeiro.

 

Tudo seguia em perfeita harmonia, um equilíbrio frágil e belo que só percebemos plenamente quando nos resta apenas a lembrança.

 

A minha aldeia pulsava em ritmo próprio, e assim vivíamos, atravessando os dias que se tornariam anos inesquecíveis, sem saber que estávamos escrevendo a história das nossas vidas.

 

Hoje, sentado aqui em uma manhã de domingo, revisito essas memórias com o coração apertado, sentindo a saudade que dói, mas também aquece. Porque Araguacema nunca sai de dentro da gente.

 

Tom Lyra

 

 

 

Posted On Segunda, 31 Março 2025 06:01 Escrito por

COP30 e o Futuro do Turismo de Negócios no Tocantins: Por Que Precisamos de um Centro de Convenções? 2u6n51

Por Marcos Koche

 

 

Quando pensamos em grandes eventos globais, como a COP30, que ocorrerá em Belém em 2025, é inevitável refletir sobre o impacto econômico e socialqueessasiniciativasgeramparaumacidadeetodooseuentorno.Dados do governo federal estimam que haverá mais de 40 mil visitantes, incluindo chefes de Estado, diplomatas, empresários e ativistas de 193 países membros. O evento da COP30 injetará bilhões de reais na economia local, mobilizando uma vasta cadeia de serviços, desde a hotelaria até o comércio, o transporte e a gastronomia, entre outros mais de 70 tipos de empreendimentos que são mobilizados com o turismo. Mais do que isso, acredito que o evento será um marco no fortalecimento do turismo de negócios e eventos, cabe destacar, que esteéumsegmentodealtovaloragregadoequetempotencialparatransformar o desenvolvimento econômico e social de qualquer região.

 

No Tocantins, temos um enorme potencial inexplorado no setor de turismo de negócios e eventos. Precisamos comemorar e reconhecer os avanços. De acordo com os dados mais recentes do Observatório do Turismo de 2023-2024, o setor demonstra crescimento. A movimentação financeira do turismo apresentou crescimento superior a 50% em comparação com o período anterior. Houve um crescimento de 21% no número de visitantes e 15% no número de empresas do setor de turismo. Porém, enfrentamos uma limitação estratégica:a ausência de um Centro de Convenções moderno e estruturado, que possa atrair grandes eventos, congressos e feiras de negócios.

 

Um Centro de Convenções não é apenas um espaço físico, mas um catalisadoreconômico.Eleécapazdeampliarofluxodevisitantesdurantetodo o ano,reduzindo a sazonalidade do turismo, e estimular o surgimento de novos negócioseinvestimentos.Estudosmostramqueoturistadenegóciosgasta,em média, quatro vezes mais do que o turista de lazer, movimentando diretamente o setor hoteleiro, bares, restaurantes, serviços de transporte, cultura, artesanatos e o comércio local. Estimativas indicam que, com um centro adequado,Palmas poderia movimentar mais de R$423 milhões por ano como turismo de negócios, gerando empregos e fortalecendo toda a economia tocantinense.

 

Além do impacto financeiro, um Centro de Convenções criaria um ambiente de oportunidades para empreendedores locais, desde pequenas empresas de eventos e fornecedores de serviços até os profissionais autônomos.TambémabririaespaçoparaoTocantinssediareventosnacionaise internacionais, ampliando nossa visibilidade no cenário econômico e turístico. Com o trabalho coletivo dos gestores das políticas públicas e do trade empresarial, Palmas tem tudo para se consolidar como uma referência para o turismo de negócios na região Norte do Brasil.

 

Diante desse cenário,é essencial que todos nós;empresários,lideranças, instituições públicas e sociedade civil reconheçamos a urgência da construção deste equipamento estratégico. O Centro de Convenções representa mais do que um prédio;é um investimento no futuro econômico do Tocantins. Um legado que garantirá novas oportunidades, desenvolvimento e fortalecimento das empresas locais. Assim como Belém se prepara para um novo ciclo de prosperidade coma COP30, Palmas também precisa se posicionar para o futuro. Portanto, faço um convite à reflexão e ao engajamento. O momento de agir é agora. Vamos trabalhar juntos para tornar o Tocantins um destino competitivo, inovador e preparado para as grandes oportunidades que o futuro nos reserva.

 

Marcos Koche

Presidente da ABIH-Tocantins

Associação Brasileirada Indústria de Hotéis

 

 

Posted On Quinta, 13 Março 2025 11:46 Escrito por
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